Sistema Eletrônico de Administração de Conferências - UDESC, III Seminário Internacional História do Tempo Presente - ISSN 2237 4078

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"Eu vou ficar nessa cidade, não voltar pro sertão": trânsitos diaspóricos na música popular brasileira (décadas de 1960 e 1970)
André Rocha Leite Haudenschild

Última alteração: 2017-10-16

Resumo


O trabalho pretende identificar a constituição de uma tópica que se propaga como uma longeva tradição melopoética em nossa canção popular: a experiência diaspórica vivenciada por compositores, majoritarimente nordestinos, em seus trânsitos migratórios aos centros urbanos protagonistas do processo de modernização nacional entre as décadas de 1960 e 1970. Portanto, compreenderemos a experiência diaspórica como um legado de grande expressão discursiva em nossa canção popular, a partir dos anos 1940 e 50, passando a adquirir novos contornos melopoéticos durante as décadas de 1960 e 70, através das vozes de uma safra renovada de músicos nordestinos naquilo que podemos chamar de “artistas diaspóricos herdeiros de Luiz Gonzaga”. Cantores e compositores que migraram e desenvolveram suas carreiras musicais no eixo Rio-São Paulo nos anos 1970, constituindo uma nova geração diaspórica em relação à geração de Gonzagão, sendo composta por Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Fagner, Belchior, Djavan, Ednardo, Vital Farias e Zé Ramalho, entre diversos outros compositores. Para tanto, tomaremos como objeto de análise um determinado escopo de canções no intuito de entendermos a experiência diaspórica nordestina como uma temática germinal na cultura brasileira do século XX, estando atrelada à invenção do sertão como “espaço de memória” e como manifestação de um sintomático “mal-estar civilizatório” que vai se disseminar em nossa canção popular entre os anos 1960 e 70. Nesse intuito, damos ênfase aos anos da ditadura militar no Brasil por termos como hipótese o fato de que a modernização autoritária imposta nesse período acarretou não somente a potencialização do papel político-ideológico da canção popular brasileira como um relevante veículo de contestação frente ao poder (como, em geral, costumam-se se ocupar os atuais estudos acadêmicos sobre história e música popular), mas dotou-a de uma paradigmática e progressiva suspeita face ao processo civilizatório pautado pela cultura hegemônica e cosmopolita das metrópoles. Assim, entendemos a experiência diaspórica como uma paradoxal desterritorialização material e cultural dos sujeitos sociais envolvidos – sujeitos em trânsito pendular entre o “sertão” e a “metrópole” – capaz de potencializar o sentimento de pertencimento identitário e de alteridade desses artistas como valores matriciais da experiência diaspórica nordestina.


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