Última alteração: 2021-06-16
Resumo
Nas últimas décadas, muitos filmes procuram abordar o tema da violência de gênero. O cinema, além de servir como uma tecnologia de gênero (LAURETIS, 1994), é um dos mais importantes meios de representação dos diversos tipos de violência, inclusive as que ocorrem contra as mulheres. Neste trabalho, pretendo discutir como são abordadas as violências de gênero nos filmes de ficção da Argentina e do Brasil, no período de 2003-2016. As representações cinematográficas, sobretudo as brasileiras, revelam que a maioria das vítimas de violência masculina fora das relações conjugais são mulheres em situação de prostituição, seja voluntária ou forçada, ou aquelas que, por alguma razão, são associadas a prostitutas. Essas violências são, essencialmente, de caráter sexual e marcadas por hierarquia de poder. A compreensão de que vivemos numa sociedade construída por e para homens, a qual reforça um determinado tipo de masculinidade em detrimento de outros e reverbera nas relações de gênero, atravessa as leituras fílmicas. Dessa forma, proponho refletir acerca das representações de violência nos filmes-fontes como frutos de processos históricos de longa e média duração, observando como tais processos, em diferentes estratos do tempo (KOSELLECK, 2014), incidem na constituição de um imaginário de caráter misógino, presente nessas representações, que ainda parece dividir as mulheres entre “santas” e “putas”, impondo a estas últimas “castigos” na forma de violência sexual.
Palavras-chave: gênero, cinema, violência contra mulheres, prostituição, História do Tempo Presente.