Última alteração: 2021-06-13
Resumo
Atualmente a literatura se configura como uma importante fonte histórica, capaz de demonstrar certas perspectivas que não aparecem em outros formatos, captar certos imaginários, anseios, e outros sentimentos relacionados ao seu contexto de produção. Buscamos nesse artigo analisar uma parte específica da ficção científica, as distopias, que são as narrativas que se ambientam em um futuro construído como catastrófico. As distopias, que se tornaram mais recorrentes na segunda metade do século XX, são sintomas de uma profunda mudança na forma como os homens se apropriam do tempo. Elas representam uma descrença generalizada com o futuro, decorrente da falência de alguns ideais que foram pregados e seguidos durante alguns séculos como o progresso, que foi parte essencial para construção do mundo contemporâneo, movendo a economia industrial. Essa mudança seria o que o historiador François Hartog conceitua como crise no tempo que causou a transformação do regime de historicidade consolidando o presentismo. Trabalhamos especificamente com a obra Neuromancer, publicada em 1984 pelo americano William Gibson, o qual sintetiza em sua narrativa expectativas em relação ao contexto, marcado nos EUA pelo governo de Ronald Reagan, os últimos andamentos da Guerra Fria e uma preocupação sobre o avanço da tecnologia e seu impacto na transformação da humanidade. A obra retrata essa mudança de abertura maior ao presente e de fechamento do futuro, que é cada vez mais visto como uma ameaça.
Palavras-chave: distopias, literatura, presentismo.