O contexto da década de 1980 no Brasil se caracterizava por um ambiente cultural que resignificava os elementos presentes no conteúdo cancional de sambistas, e apresentava um cenário em que o pagode iniciava sua carreira como novo fenômeno fonográfico que logo estaria em ascensão. No entanto um artista em particular olhava para o passado e retomava, alguns elementos temáticos, timbristicos e harmônicos, com uma proposta de elaboração de temas que se configuravam de modo a produzir estranhamento frente ao chamado samba de embalo. Os sambas nostálgicos ou mesmo melancólicos como o de Nelson Cavaquinho eram o modelo para Fernando Pellon compor trágicos sambas em que os temas da morte e os tons sarcásticos produziam um particular senso de humor. O autoritarismo da censura prévia no Brasil na década de 1980, se recrudescia à medida que o início do processo de distensão política, qualificada como abertura do regime acontecia. Enquanto a censura moral tinha para si os temas relativos à moral e aos bons costumes como foco de sua atuação, já a censura política buscava por elementos de denúncia de atos desviantes do governo e mesmo uma visada ideológica sobre os produtos culturais, a censura prévia agia sobre os conteúdos culturais de maneira mais restritiva e encarava a obra de Pellon a partir de uma perspectiva muito particular. O processo de solicitação à censura prévia do sambista Fernando Pellon de Miranda junto ao DCDP referente a uma canção que tem o tema do suicídio como alvo do poder censório permite entrever um modo de tratar os temas da morte e ao mesmo tempo compreender as dinâmicas da repressão no Brasil dos anos 80. Seu álbum Cadáver pega fogo durante velório, permite explorar uma série de inflexões temáticas a respeito do suicídio e da morte em alguns sambas dos anos 1980.

Palavras-chave: Ditadura militar, canção, morte.