Última alteração: 2021-06-16
Resumo
O desaparecimento de crianças pela ditadura militar argentina desponta para o enfrentamento da realidade das múltiplas temporalidades envolvidas como efeito das experiências históricas de violência política. Essas crianças, filhas de militantes das organizações clandestinas de esquerda da época, nasceram em centros clandestinos de detenção ou foram sequestradas ainda bebês junto a seus pais e foram entregues a militares, policiais ou pessoas próximas das forças repressivas do Estado para serem criados como filhos próprios sob outra identidade. Atualmente, elas já possuem cerca de 40 anos de idade e, para descobrir se podem ou não ser filhos de desaparecidos políticos, devem realizar um teste genético que permite descobrir a compatibilidade com os parentes biológicos das vítimas da repressão estatal. Desse modo, compreendo que, ao serem identificadas, emergem três tipos de espessuras em relação a essa experiência traumática: o passado biológico (relacionado aos dispositivos de parentesco), o passado coletivo (a partir de como vem se desenvolvendo, na sociedade argentina, a relação com a experiência política dos anos 1960 e 1970) e o passado carnal (o da experiência do próprio sujeito até o momento de reconhecimento de sua história de origem). A partir das discussões das camadas temporais das experiências históricas (KOSELLECK, 2014), em especial daquelas que marcam a história do tempo presente latino-americana, buscarei compor os tempos dessas histórias de restituição.
Palavras-chave: crianças desaparecidas, passados traumáticos, ditadura militar argentina, história do tempo presente latino-americana