Sistema Eletrônico de Administração de Conferências - UDESC, III Seminário Internacional História do Tempo Presente - ISSN 2237 4078

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Reflexões sobre a identidade lusófona nas trajetórias das cantoras Carmen Miranda e Amália Rodrigues
Marcia Ramos de Oliveira

Última alteração: 2017-10-14

Resumo


Este trabalho tem como proposta apresentar parte das reflexões resultantes do Projeto de Pesquisa “Cinebiografia musicais: Carmen Miranda e Amália Rodrigues protagonistas do cinema e da canção (1940 – 1955)”, em curso. Pretende abordar a origem comum as história de vida de Carmen Miranda e Amália Rodrigues, ambas nascidas em solo português, considerando a importância das comunidades lusófonas compartilhadas por elas em Portugal e no Brasil. Para além do nascimento, as trajetórias das duas artistas relacionam-se diretamente com a construção identitária dos dois países, pela evocação do gênero musical indicativo da marca da nacionalidade nos dois Estados como parte da construção hegemônica destes governos nas décadas de 1940 a 1950. O samba e o fado adquirem expressiva dimensão no momento em que as duas intérpretes encontram-se diretamente envolvidas no processo de registro e divulgação das músicas diante da produção fonográfica e indústria cultural em expansão. Ainda que apresentem características peculiares em cada um dos países, o desenvolvimento da atividade artística relacionada a expansão midiática é parte do processo capitalista do contexto, implicando desdobramentos nas relações diplomáticas internacionais do período. Protagonistas na interpretação destes gêneros musicais nacionais, Carmen e Amália tiveram em comum muito mais do que o nascimento. Atuaram em salas de espetáculo e teatro musicado, notabilizaram-se como grandes intérpretes em âmbito nacional e internacional, definiram com sua dicção peculiar o registro do samba e do fado, respectivamente, em fonograma, no disco e no cinema, construíram personagens que deram significado aos dois gêneros em meio ao jogo de construção midiática e ideológica de expressão no século XX. Ainda que nunca tenham compartilhado os palcos, atravessaram cenários comuns, a medida em que Amália Rodrigues atuou em companhia de revista no Rio de Janeiro/RJ, chegando ao disco 78 rpm pela primeira vez no Brasil. Carmen Miranda, de menor longevidade se comparada a Amália, retornou poucas vezes ao Brasil após sua partida para os Estados Unidos, especialmente em função do trabalho no cinema. Amália ampliou sua estadia em palcos brasileiros em diferentes circunstâncias e momentos de sua vida, inclusive tendo morado no país, a partir de casamento com cidadão brasileiro. A proposta apresentada, pretende analisar em parte, a dimensão simbólica decorrente da participação das duas grandes intérpretes, considerando as comunidades de sentido envolvidas, especialmente associadas a presença portuguesa e brasileira. Sob a perspectiva da história do tempo presente e do campo de estudo que aproxima história e música como pesquisa aplicada, busca-se inferir como tais trajetórias atravessaram diferentes gerações e definiram as formas de representação dos estados nacionais, ultrapassando a ideia de uma nacionalidade localizada nas fronteiras territoriais, chegando a dimensão transnacional das comunidades de sentido, passíveis de observação nos séculos XX e XXI.


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