Última alteração: 2017-10-12
Resumo
Este artigo busca discutir as relações de gênero e as práticas sociais na cidade de Florianópolis a partir das experiências de dois homens na cozinha. O ato de cozinhar apresentou-se de maneira diferente no ambiente familiar de cada um deles, refletindo no contemporâneo. Um dos homens, hoje com 50 anos, nascido e criado em Canasvieiras, no Norte da ilha, aprendeu a cozinhar com sua mãe. Tornou-se dono de um restaurante onde prepara a “tainha escalada”, que ele cita como um prato tradicional, seguindo a mesma maneira de preparar o peixe como aprendeu com sua mãe: escalado, temperado com sal e limão. O processo de escalar, que consiste em eviscerar, salgar e colocar para secar, era iniciado por sua mãe às cinco horas da manhã, até os peixes irem para uma espécie de varal durante três dias. O outro homem, hoje com 77 anos, nascido no Centro de Florianópolis, onde ainda reside, nunca aprendeu a cozinhar. Ele fala com naturalidade que em casa quem cozinhava era a sua mãe e que “naquele tempo as pessoas da cidade tinham empregada”. Sua mãe comprava os peixes inteiros na porta de casa e mesmo com a variedade de frutos do mar ofertada ele conta que “em casa era só peixe”. Interpretamos que a distância geracional de pouco mais de 20 anos certamente contribui para essas diferentes relações com o espaço da cozinha, mas queremos enfocar aqui a perspectiva de como os modos de fazer podem ser passados de uma geração para outra, como o ofício de cozinhar, transmitido de mãe para filho, de uma mulher para um homem, num espaço tradicionalmente visto como feminino. A História Oral nos permite ter acesso a narrativas que não estão presentes nos documentos. Logo, as fontes orais nos possibilitam conhecer aspectos que facilitam refletir a respeito do Tempo Presente. Assim, pautamos novos olhares para as relações sociais contemporâneas. A análise presente neste artigo pretende contribuir na compreensão das realidades diversas num dado espaço de tempo.