Última alteração: 2017-10-11
Resumo
A partir das noções de modernidade e pós-modernidade enquanto construtoras de distintas temporalidades, respectivamente marcadas por uma ideia de progresso e por uma valorização da categoria memória, procuro olhar para a cidade de Criciúma com foco nos seus dois principais projetos modernizadores, o desenvolvimento da indústria carbonífera e o processo de colonização europeia, e nas representações hegemônicas acerca da cidade que cada um deles sustentou e sustenta sob os títulos de Capital do Carvão e Cidade das Etnias. Para tanto, busco concebê-las como duas experiências que, por complementaridade, oposição ou mera concomitância, constituiriam passados simultaneamente disponíveis ao longo do tempo, geradores de memórias a partir das quais a história da cidade tem sido preferencialmente narrada e/ou interpretada. Estudos indicam que, com relação às políticas municipais de proteção ao patrimônio cultural, a maior parte dos bens tombados também está intimamente relacionada à cidade carbonífera e à cidade étnica. Considero que duas passagens bastante conhecidas, a descoberta do carvão por Giácomo Sônego e a construção da primeira indústria por Benjamin Bristot, são lugares de memória privilegiados – dentre outros possíveis – cuja análise dos seus sucessivos usos por cada presente, ou das suas variadas presenças em cada presente, pode evidenciar os distintos estratos de tempos que neles se acumulam. Diante do diagnóstico de um tempo presente em que predomina a sobrevalorização de um passado colonizador, defendo a instauração de um posicionamento crítico perante a Cidade das Etnias, assim como a necessidade de buscar modos alternativos de pensar outras histórias de Criciúma. A atual concepção colonizadora da história adquire a forma de um posicionamento político na medida em que praticamente monopoliza as políticas públicas no campo da cultura, que por sua vez reforçam uma cultura política ainda legitimada nos tradicionais esquemas de identificação étnica.