Última alteração: 2017-10-14
Resumo
Para seguir esta rota, e mapear a rede de produção e circulação musical neste mundo de entretenimento comum, uso como fonte de dados jornais e periódicos de época disponíveis em hemerotecas digitais, assim como partituras impressas e libretos de peças de teatro. Entre Espanha e America, passando por Paris e Portugal, o comércio em torno da habanera, forma musical associada primeiramente à Havana, Cuba, mas sucessivamente desterritorializada e reterritorializada, pode ser entendido como um caso de produção e circulação musical cuja característica marcante é o deslocamento fundamental, em consonância com os fluxos do Atlântico Negro. Como se davam os processos de composição musical através da apropriação do elemento negro, do deslocamento, da imitação estilizada, da invenção de alteridades musicais? Como isso era exportado e recebido em outras cidades do atlântico?Aqui vou me ater ao exemplo da zarzuela El Relampago, de Camprodon e Barbieri, o primeiro caso no teatro espanhol a usar a habanera como personagem principal, a trazer para os palcos o que seria uma musica negra. Uma vez feita a representação nos palcos espanhóis dos negros de cuba - modo de falar, de cantar, de dançar – esta musica é rapidamente transformada em fórmula garantida de sucesso pelos compositores de zarzuelas. Após a estréia em Madrid em 1857 esta zarzuela foi representada repetidas vezes em varias cidades das Américas. E, como marca indelével da transposição deste tipo de musica anteriormente associada ao universo negro, se consolidou no mercado editorial de partituras a representação musical, enquanto ferramenta de escrita, do padrão de acompanhamento chamado ritmo de habanera. Da Espanha para America, passando por Paris, todas as partituras editadas entre 1850 e 1880, que fizessem alusão ao universo negro americano foram escritas seguindo esta fórmula rítmica.