Última alteração: 2017-10-16
Resumo
O presente trabalho analisa um conjunto de memórias elaboradas por Ada Therezinha, que, nos anos de 1965 a 1972, documentou suas experiências vividas em suportes de escritas ordinárias. Quando jovem, Ada elegeu cartas e diário pessoal como espaços privilegiados para expressar os desejos e as expectativas do namoro, noivado e preparativos da união conjugal com Enio. O casamento concretizou-se em 1952 e a prática de arquivar sua experiência amorosa permaneceu, com a produção de memórias fundadas na experiência de esposa e mãe. Os egodocumentos foram conservados à ação do tempo e hoje constituem, junto a um amplo conjunto de documentos de pessoas comuns, o Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami (AHMJSA), em Caxias do Sul, Rio Grande do Sul. As doações à instituição pública foram sucessivas e em momentos distintos, o que evidencia a dinâmica da constituição de arquivos pessoais e as narrativas que são produzidas na organização dos documentos. As circunstâncias de elaboração das memórias de Ada, quando mãe e esposa, não foram as mesmas daquelas do tempo de namoro ou noivado, o que problematiza as condições e as motivações do deslocamento dos egodocumentos para o arquivo histórico. Quando tomados pela investigação histórica como vestígios materiais de um tempo passado, estas memórias apontam para as práticas da viga conjugal e para a produção de significados que dizem respeito às experiências históricas das mulheres, como a eficácia do amor romântico com vistas para o casamento e as representações ideais do feminino. O trabalho é ancorado, sobretudo, nos estudos da História Cultural e História do Tempo Presente, que oferecem subsídios teóricos e metodológicos para a discussão da temática.