Última alteração: 2017-10-13
Resumo
Propomos analisar a formação de um “consenso democrático” que incluiu forças até então ligadas à ditadura, grupos civis de direita que apoiaram o golpe de 1964 e sustentaram o regime, mas também centristas e parte das esquerdas de vários matizes durante os anos de 1970 no Brasil. A hipótese é a de que assim se iniciou um exercício de reconstrução da memória responsável pela consagração do termo “ditadura militar” para lidar com o período iniciado em 1964, assim como os “anos de chumbo” referentes à vigência do Ato Institucional Nº5 (AI-5). Termos fundamentalmente contrastantes e dicotômicos em relação aos interesses democráticos que a partir de então vão figurar como parte da memória desses grupos. Consideramos que essa narrativa ajudou a viabilizar um processo de transição institucional pacífico cujo acontecimento mais emblemático é a Anistia de 1979. Essas memórias, construídas com participação fundamental de grandes beneficiários da ditadura, contribuíram para a produção de uma perspectiva histórica binária que, no campo das subjetividades, tem alimentado dicotomias baseadas na ruptura ditadura-democracia, assim como militares-civis, cidadãos trabalhadores e vagabundos, autoritarismo e pacificação.