Última alteração: 2021-06-16
Resumo
As transformações socioculturais vivenciadas a partir de meados do século XX impactaram, entre outras coisas, as formas de arquivamento de objetos/documentos institucionais e pessoais. A celeridade do tempo e a supressão de espaço físico desencadearam novas formas de guardar, novos critérios para selecionar e a qualificação de sensibilidades suscitadas pelo desejo de arquivar-se, como uma forma de deixar marcas de uma existência. Ainda que a afetividade seja considerada uma baliza determinante na ação arquivar dimensões da existência de um indivíduo, atendê-la de forma efetiva se torna impossível diante dos dilemas espaciais. Os livros, objetos permeados por representações e sensibilidades, têm o potencial de “contar” histórias sobre seus proprietários e sobre as práticas do tempo e o espaço em que existiram e circularam. A partir de três publicações do autor Marcelino de Carvalho, concentradas na década de 1960, e suas peculiaridades, esse estudo buscou iluminar o percurso de livros que um dia figuraram em arquivos pessoais e suas interfaces com o determinados períodos e acontecimentos. Os diversos usos e destinos, evidenciados a partir da materialidade, sugerem diferentes formas de (des) arquivamento de documentos, conferindo transitoriedade ao caráter pessoal desse tipo de objeto. As diversas condições assumidas pelo objeto em seu percurso permitiram ampliar o olhar sobre a dinâmica de constituição de arquivos pessoais no tempo presente e uma reflexão sobre o lugar ocupado pelos objetos – nesse caso, livros – nessa constituição.
Palavras-chave: arquivos, memória, tempo presente.