Última alteração: 2021-06-16
Resumo
Neste texto desenvolvemos dois pontos de vista que se encadeiam. Primeiro: Caetano Veloso, em Verdade Tropical, superestima a importância da menção, por ela mesma, de um nome de produto, Coca-Cola, no sucesso de Alegria, Alegria. Segundo: o contexto geral da música diluiu a percepção da crítica ao ideário nacional-popular, um dos objetivos do projeto tropicalista – este sim um provável, apesar de nem tão explícito, fator explicativo do impacto provocado pela canção. Além da bibliografia, a argumentação se apoia na pesquisa que realizamos e que resultou na formação de um banco de dados com 357 músicas, compostas de 1933 a 2.000, todas citando pelo menos uma marca. A originalidade da Alegria, Alegria não está, porém, nesta particularidade – Lamartine Babo, Orestes Barbosa e Noel Rosa, entre outros, já haviam recorrido ao mesmo recurso. Mais ainda, Zé Dantas e Luiz Gonzaga, como registrou recentemente Caetano, nomearam, antes dele, a própria Coca-Cola em Siri Jogando Bola (1956). Com repetição em 1962, quando Coca-Cola aparece, simultaneamente, em O subdesenvolvido, de Francisco de Assis e Carlos Lyra, e em João da Silva/ Falso Nacionalista, de Billy Blanco (LP O povo canta). E mais do que as menções em si, são os contrastes entre o os significados da marca Coca-Cola nestas duas últimas canções e os assinalados em Alegria, Alegria, que sugerem, mesmo sem explicitar, as diferenças entre a perspectiva nacional-popular e a tropicalista e justificariam o sucesso de Caetano.
Palavras-chave: Caetano Veloso, Tropicalismo, Nacional-Popular.