Última alteração: 2017-10-15
Resumo
Everardo Backheuser, vulto importante da História da Educação brasileira, atuou em diversos campos. No pedagógico, por exemplo, trabalhou com a formação de professoras primárias na direção de um projeto educacional muito particular, transversalizado pelo catolicismo e de inspiração escolanovista, o qual o situa no campo fortemente disputado no Brasil dos anos de 1930. Esse texto objetiva problematizar dois bens culturais, arquivos pessoais, lugares onde um passado, uma memória foram guardados e mais do que isso, foram construídos. Vestígios da história de Everardo foram acumulados, organizados e conservados por Alcina Moreira de Souza, sua segunda esposa, e, expressos em um álbum de memórias (dados biográficos, fotografias, partes de livros e recortes de jornais) e um livro biográfico, que reúne indícios das várias facetas do professor, desde a infância até a vida adulta. Já que a prática de acumular, guardar e preservar documentos é atravessada por uma fabricação material e simbólica e por sucessivas manipulações e triagens, ao contemplá-los e tentar compreendê-los como objetos de memória, questiona-se: Em que circunstâncias Alcina os produziu? Por que ela os organizou e guardou? Queria ela forjar a glória de Everardo? Os objetos aqui interpelados, qualificados, ressignificados e legitimados, poderiam estar destinados à invisibilidade, o livro, por exemplo, não foi publicado. No entanto, foram preservados, tornando-se assim um corpus documental de valor como fonte histórica e se impondo como profícuos espaços de pesquisa no tempo presente. Ao arquivar a experiência vivida por Everardo, Alcina produziu significados, fabricou história e forjou representações acerca da trajetória do marido. A riqueza de detalhes nas descrições e a própria preocupação em trazê-lo para dentro do seu texto mostra a sua intenção de mantê-lo vivo, não apenas na sua memória, mas no campo através, por exemplo, de fragmentos reveladores de seu cotidiano como professor.