Última alteração: 2017-10-11
Resumo
No decorrer das formulações de salvaguarda do passado, entre a História e a memória, ocorreram disputas acerca da elaboração de lembranças sobre o Golpe Civil-Militar de 1964. Inspirado nas disputas pelas memórias do golpe, o objetivo dessa comunicação é elucidar as articulações políticas engendradas pelo governo do General Castello Branco, por meio da participação civil e militar nas comemorações do imediato pós-golpe e a celebração do primeiro aniversário da chamada “Revolução” (1965). Os discursos predominantes na imprensa diária analisada (Jornal do Brasil e Folha de São Paulo) reforçavam o anticomunismo, a ordem cívica e a proposição de caráter legal atribuído a um movimento civil-militar iniciado por meio de uma ação inconstitucional, que entrou para a história como “revolução”. As comemorações do primeiro aniversário da chamada “revolução” foram marcadas pelo caráter militarista e oficial do evento, com desfiles cívicos e marchas de militares. Além disso, importava aos setores que apoiaram o golpe reforçar o sucesso no expurgo do comunismo, além dos “novos” caminhos abertos para a sociedade brasileira. De certa forma, o novo governo, ao invés de promover uma celebração apoteótica, preferiu marcar suas próprias ações no campo da economia e política como forma de consolidar o poder instituído a partir do golpe civil-militar de 1964. Decorrido um ano dos militares no poder, em 1965, a euforia inicial arrefeceu e a população não tomou mais conta das ruas, portanto, a comemoração mudou o tom e o destaque recaiu sobre a tentativa do governo de se autopromover na exposição de suas ações durante a gestão. As memórias produzidas sobre as comemorações do golpe civil-militar e o primeiro aniversário se constituíram a partir de um campo de disputas. Isso significa que a intenção era promover lembranças do golpe em si como um fato histórico que solucionou os problemas da sociedade brasileira e evitou que o comunismo dominasse a política nacional. Por outro lado, era fundamental praticar uma espécie de esquecimento das ações inconstitucionais que levaram ao movimento de março de 1964, para marcar uma ordem cívica e impor uma política autoritária na condução dos rumos políticos do início do governo ditatorial brasileiro.